Introdução ao estudo da digestão e absorção






 

 

Digestão e Absorção

            O processo de digestão é aquele onde macromoléculas são fracionadas em moléculas menores que podem passar pela membrana, ou seja, este processo classifica-se por ser o desdobramento dos alimentos de alto peso molecular em moléculas menores, através das reações de hidrólise. Estas reações, geralmente são catalisadas por enzimas específicas. Inclusive, estas enzimas podem ser secretadas por células da própria mucosa ou ainda por glândulas anexas. Além da atividade hidrolítica das enzimas, nós temos as ainda aquelas que são produzidas pelos microorganismos, dentre eles, nós temos: as bactérias e os protozoários. Contudo, podemos perceber que existem processos digestivos, os quais envolvem bactérias e protozoários. E quando se trata de processo de absorção? Podemos dizer que este processo é o produto dessas reações de hidrólise, onde são transferidas para a corrente sanguínea, ou seja, por toda a digestão a molécula é absorvida e transferida da luz intestinal para corrente sanguínea ou linfa.

      " Será que todas as proteínas precisam ser digeridas para serem absorvidas?" "Existe absorção de uma proteína na sua forma íntegra?"
         Para chegarmos às respostas, será dada uma breve exemplificação. Primeiramente, o que é imunização? Na teoria, significa possuirmos anticorpos contra determinado patógeno. Como esse anticorpo é produzido? Pode-se adquirir através de vacinas ou pelo contato direto com o patógeno. Ao processo descrito acima, damos o nome de imunização ativa. Agora, quando falamos em imunização passiva, podemos dizer que este processo não se produz o anticorpo, ao contrário da imunização ativa, na qual ocorre-se a produação do anticorpo. A imunização passiva é adquirida através do colostro (leite materno), ou seja, esse anticorpo é transferido por meio do leite da mãe para o bebê. Mas aí vem a questão: " Como o anticorpo que está no leite consegue passar para o sangue do bebê?" O anticorpo consegue ser absorvido na sua forma íntegra, ou seja, algumas proteínas "burlam" o sistema normal, de tal forma que elas conseguem ser absorvidas na sua forma íntegra.
         Uma curiosidade a ser destacada é que em mamíferos, por exemplo, diz-se que as primeiras 72 horas de amamentação da mãe para o bebê, são cruciais para que ocorra essa absorção de anticorpos. Isso porque o intestino e a mucosa estão muito jovens e com isso muita coisa passa nessas primeiras horas, tanto que o colostro chega a ter aspecto amarelado de tão grande a concentração de anticorpos que ele possui. Diferente do leite normal, que não possui tanto anticorpo assim, mas ainda é possível ter a absorção de anticorpos pelo leite materno.

Aspecto amarelado do colostro

          Em relação aos mamíferos, os alimentos que são utilizados por eles são divididos em 3 classes, dentre elas temos:

- Alimentos considerados energéticos;
- Alimentos considerados estruturais;
- Alimentos considerados catabólicos.

        Quando falamos em alimentos energéticos, subtende-se que são àqueles que mais fornecem calorias. Dentre eles destacam-se os glicídios e os lipídios. "Qual deles é mais energético?" Os lipídios são os alimentos mais energéticos. Para se ter uma ideia clara e objetiva da situação, constatou-se que um grama de lipídio quando oxidado libera cerca de 9 calorias. Já os carboidratos quando oxidados um grama, são liberados 6 calorias. Então, o lipídio libera muito mais caloria do que o carboidrato. Isso acontece porque os glicídios são carboidratos (hidratos de carbono) e eles possuem água e além disso, temos em vista que os lipídios são mais reduzidos. Sabemos que os processos que liberam ATP são de oxidação. A via glicolítica, o ciclo de Krebs são oxidações biológicas que estão acontecendo. Portanto, são as oxidações que vão liberando  as energias das moléculas. Então, se a molécula for mais reduzida, ela pode receber mais reação de oxidação, logo irá liberar mais calorias, que é o caso dos lipídios.
        Quando falamos em alimentos estruturais, estamos ressaltando as proteínas. Estas podem realizar a liberação de calorias. Aliás, 42% dos aminoácidos que chegam ao fígado são oxidados, ou seja, o aminoácido chega ao fígado, retira o grupamento amina dele, fazendo com vire amônia. Em seguida, ocorre a conversão para uréia, porque a amônia é muito tóxica para ser lançada na corrente sanguínea e o que sobra do aminoácido são os alfa-cetoácidos, que entram no ciclo de krebs para serem oxidados. Já quando falamos em alimentos catabólicos, estamos nos referindo às vitaminas e aos sais minerais, os quais contribuem para execução das reações catabólicas.
          Ainda como parte da nossa introdução, os mamíferos podem ser classificados quanto à sua capacidade de desdobramento da celulose, ou seja, de aproveitar a celulose como nutriente. Nós temos os animais que não conseguem digerir ou utilizar a celulose como nutriente, por exemplo, os carnívoros e onívoros. Já em contra partida, temos os animais que conseguem de maneira limitada, utilizar celulose, por exemplo, os herbívoros monogástricos, E por fim, temos os ruminantes, que são animais especializados no desdobramento da celulose, eles utilizam a mesma como nutriente.
             Sabe-se que a celulose é um polímero de glicose, parecido com o amido, mas ele é um polímero de glicose do tipo alfa-1,4; formando-se assim, polímeros de amilose e que neste caso, a ligação glicosídica é do tipo alfa 1,4 e esta ligação pode ser rompida pela enzima conhecida como AMILASE. Seja pelas glândulas presentes na boca (carótidas) ou também, pela amilase produzida no pâncreas. Contudo, tanto a amilase salivar, quanto a amilase pancreática, conseguem digerir esta ligação glicosídica (fazer a hidrólise desta ligação). Porém, quando falamos na celulose, vimos que há presença de glicose nela, mas a ligação não é do tipo alfa 1,4, e sim, do tipo beta 1,4 (que não é quebrada pela amilase). Esta ligação do tipo beta 1,4 é digerida/quebrada por uma enzima chamada CELULASE. E não existe nenhuma célula dos organismos dos carnívoros ou onívoros que produza a celulase, ou seja, estes animais não possuem nenhuma região capaz de fornecer as condições adequadas para proliferação de microorganismos que façam a fecundação da celulase. O único lugar que poderia ser formada essa enzima (celulase), seria no estômago, porém nele encontramos um pH ácido, então não há possibilidade de proliferar microorganismos fermentadores da enzima.
            Os herbívoros não ruminantes (monogástricos), eles possuem a presença de um ceco proeminente e nessa região há uma homeostase; uma possibilidade de crescimento microbiano e aí sim, as bactérias e protozoários digerem a celulase. O produto dessa fermentação caudal, vai ser absorvido somente no intestino grosso. Contudo, essa fermentação que ocorre na parte caudal, os nutrientes que são produzidos e os produtos adquiridos são poucamente aproveitados.
             Há uma curiosidade muito sensacional em coelhos. Analisando a foto abaixo, podemos perceber como existe uma grande proeminência no ceco deste animal. É no ceco que se deposita a câmara de fermentação deles e os produtos são absorvidos no restante do intestino grosso.

             Os coelhos são animais que realizam o processo chamado de CECOTROFAGIA, ou seja, eles se alimentam dos CECOTRÓFOS, que são consideradas " pré-fezes". De acordo com as informações descritas acima, por eles possuírem grande proeminência no ceco, que estes animais fazem a cecotrofagia e se alimentam diretamente do ânus. Estes cecotrófos possuem texturas bem diferentes das fezes normais desses animais. Enquanto as fezes comuns são "sequinhas" e possuem aspecto de "ração",  os cecotrófos, são bem menores e possuem textura "úmida".
Ilustração de um cecotrófo.

               Geralmente este hábito de cecotrofagia é noturno. O ato de se alimentar desses cecotrófos, permite assim , que eles consigam absorver os nutrientes. Diferente dos equinos, que não realizam a cecotrofagia, porém os mesmos possuem "estenoses" no cólon que promovem a fermentação das câmaras, não só no ceco, mas também no cólon. Contudo, tem-se um processo fermentativo melhor, não precisando realizar a cecotrofagia e conclui-se que tanto os coelhos, quanto os equinos que são herbívoros monogástricos, possuem aproveitamento limitado da celulose.
            Os ruminantes (poligástricos), possuem o estômago dividido em 4 cavidades. Dentre elas, destacamos o rúmen e é nela que há a especialização da digestão da celulose, o que faz desses animais serem altamente degradadores da celulose. 
            Para finalizarmos, existe um outro aspecto importante quando falamos da digestão e absorção, que são as adaptações da membrana da mucosa que acontecem com o intestino delgado. As dobras, as pregas, as vilosidades e as microvilosidades do intestino ampliam a superfície da mucosa intestinal em 600 vezes. Imagina se o animal tiver uma doença que lesione estas estruturas, a membrana dele começará a ficar lisa? Sim! E todo o seu processo de absorção ficará prejudicado. Entretanto, é importante ressaltar que existe uma vasta rede de capilares, tanto no sistema linfático quanto no sistema sanguíneo que fica logo abaixo dessas vilosidades, onde o nutriente é absorvido pela rede sanguínea e também pela rede linfática. Portanto, chegamos ao fim da apresentação e espero que as informações tenham sido bem apresentadas e colocadas com objetividade.
                     

"Não tenha medo de errar, o acerto faz você parar e o erro é o aprendizado que faz você continuar tentando." - Leonardo Cruz.

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